domingo, 7 de novembro de 2010

Ricardo revela as estratégias para os 100 primeiros dias de gestão





O governador eleito Ricardo Coutinho (PSB) recebeu uma equipe de reportagem na última sexta-feira pela manhã para conceder uma entrevista exclusiva. Visivelmente cansado, atendeu em seu gabinete ainda montado na produtora do guia eleitoral, instalado no bairro de Mangabeira, tentando esboçar uma disposição que, à esta altura, já desafia seus limites humanos.
Entre uma navegada na internet e mensagens enviadas por seu aparelho celular, o ex-prefeito de João Pessoa puxa conversa, mas não consegue conter bocejos que refletem puro cansaço, após ter estado no dia seguinte em maratonas de reuniões em Brasília e ter pego um vôo logo cedo da sextafeira para João Pessoa, seguindo direto para o escritório de Mangabeira.
Nesta entrevista, Ricardo Coutinho deixa claro que ainda não está, como é natural, totalmente a par do que vem pela frente nos seus primeiros dias de governo. Tinha acabado de anunciar sua equipe de transição, mas confessa estar assustado com informações que chegam a todo instante relatando situações escabrosas de todos os niveis na atual máquina administrativa.
Já se considerando ‘escolado’ em termos de transição, ao lembrar os primeiros dias dramáticos quando assumiu a prefeitura de João Pessoa, em 2004, o ex-prefeito nascido no bairro de Jaguaribe, na capital, imagina que possa estar à altura do desafio de fazer funcionar uma máquina pública ‘de dimensões assustadoras’.
Mas ele garante: não vai fazer reforma administrativa no Estado, logo nos primeiros dias de governo. Mas também confessa: pretende reduzir o custo da máquina e, para isso, já decidiu adotar uma medida antipática principalmente em relação às expectativas de toda uma militância: não vai preencher todos os cargos disponíveis na estrutura, como forma de economiar recursos. 
Ricardo fala ainda na entrevista sobre sua indecisão sobre usar a Granja Santana como residência oficial e revela: só está projetando este fim de semana para descanso até a posse. “Há muito o que fazer e pouco tempo para isso”, justifica.
ENTREVISTA
O senhor já tem projetados os principais pontos para atuar nos 100 primeiros dias de governo?
- Eu tenho na agenda que é preciso ter o primeiro passo, que é construir o equilíbrio financeiro do Estado. Não se faz absolutamente nada, desde pagamento de salários até investimentos, que não passe pelo equilíbrio financeiro. Eu não sou irresponsável, não faço qualquer coisa porque tem que fazer, eu só compro algo para aquilo que eu sou responsável, e assim será também no Estado, se eu tiver capacidade de pagar, e pagar em dia. Eu não posso estar fazendo compras que o Estado não tenha dinheiro. Essa é uma prática que eu não uso. Nunca usei na Prefeitura e nem quero usar no Estado. Então, para isso, eu preciso ter um processo de tornar o Estado equilibrado financeiramente. Esse é o primeiro passo. O segundo passo: eu tenho que ativar, progressivamente ao longo dos 100 dias, todas as nossas políticas-chave. Ativar, por exemplo, a democratização do orçamento, a política cultural, a política educacional, de assistência social, de geração de renda, ativar todas as nossas políticas para poder, em seguida, começar a colher os resultados. Isso é fazer os investimentos necessários...
Não há, então, até o momento, um ‘pacote’ em gestação para ser anunciado para os primeiros dias de gestão?
- Eu não tenho ainda obras, ações ou serviços que eu possa dizer ‘vou fazer nos 100 dias’. Eu preciso conhecer detalhadamente as condições do Estado, hoje. Eu não posso trabalhar com informações que me vêm de um canto ou de outro, dizendo que são terríveis, eu quero saber a informação oficial. É por isso que a questão da transição, além de ser democrática, republicana e de respeito à população, ela precisa ser feita com a maior urgência possível. Precisa ser estabelecida e com vontade, com verdade, para que o governo que vai governar a partir do dia 1º de janeiro possa ter as condições devidas por qualquer gestor para que ele conheça a realidade do Estado e tome as suas medidas.
Nesse aspecto, durante a sua campanha, o senhor assumiu o compromisso, por exemplo, da criação de uma Agência de Desenvolvimento do Estado, e em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA, também demonstrou sua intenção de criar a Secretaria de Cultura. Dentro dessa estrutura administrativa, haverá necessariamente alguns ajustes?
 - Sem dúvida. É preciso diminuir o custo da máquina. Gastar melhor o que se tem nos setores mais prioritários, dentro das nossas políticas maios importantes. Senão, fazer um enxugamento: não  completar a máquina toda, fazer com que alguns setores afins, próximos, funcionem com uma única estrutura, ao invés de mais de uma, para poder segurar o peso que não é fácil. É muito pesada a máquina – a administração direta e indireta. Eu fico impressionado com o tamanho dela, é preciso reduzir. Para abrir os outros espaços, geração de renda, no Estado você não tem nenhuma estrutura para isso. O orçamento democrático: é preciso abrir e criar uma rede, começar a trabalhar isso já visando o orçamento do próximo ano. Estruturar a motivação e a co-responsabilidade no avanço de metas na educação, na segurança, são coisas que são necessárias. Então eu vou começar a adequar, estou começando a trabalhar com isso, mas no início eu não pretendo fazer nenhuma reforma administrativa, mas eu pretendo to- lher a nomeação para que possa sobrar um pouco mais de dinheiro.
E com relação às emendas da União, já há alguma articulação ou preocupação de sua parte no sentido de racionalizar e potencializar, também, as emendas em favor da Paraíba?
Já. Eu ontem (quinta-feira, 4) estive reunido com Rômulo Gouveia (PSDB), que é deputado federal e será o vice-governador, ele naturalmente já me passou uma relação de emendas desse ano, que é preciso liberar, e da construção do Orçamento 2011. Eu estou quereno priorizar – caso a bancada federal assim também se disponibilize, porque isso tem que ser uma via de mão dupla – o Hospital Metropolitano em Santa Rita; a alça noroeste em Campina Grande, uma coisa importante; também na área de ciência e teconologia, na área de implantação de inclusão digital em várias cidades (nós não nominamos ainda as cidades); a unidade de oncologia de Patos. São quatro projetos iniciais que eu acho que são realmente importantes.
O PSB, agora, tem o Governo da Paraíba; já tem a Prefeitura de João Pessoa; em relação aos planos para 2012: estruturar ainda mais o partido no Estado no sentido de que, nas eleições municipais, possa ter novas conquistas?
- Eu acho que o PSB é um partido que cresceu, que tem perfil, identidade programática, consegue realizar um trabalho diferenciado e importante em João Pessoa – tanto é que eu saí e você não vê solução de continuidade, a Prefeitura continua na máxima velocidade, entregando serviços, ampliando visões, enfim. Nós, eu acho, conseguimos alcançar um patamar diferenciado dentro da gestão, da administração pública. João Pessoa está equilibrada, sabe o que quer, constrói isso a curto, médio e longo prazo, e eu quero essa mesma sorte para o Estado. É claro que eu, como home de partido, quero e acho que minha legenda vai realmente avançar nas eleições de 2012. Agora, nós estamos dentro de uma aliança. Quero manter a aliança. Quero manter a aliança que ganhou o Governo do Estado, e que deve disputar 2012, porque é uma coisa natural. Então nós vamos formatar composições nos diversos municípios onde a gente possa manter – onde for possível, naturalmente – esse núcleo dessa aliança que recentemente ganhou o Governo do Estado.
E quando o senhor começará a se focar nessa questão?
Ah, esteja certo de que é muito,  muito cedo para se falar em 2012, na verdade. A tarefa minha é me dedicar de corpo e alma a dar viabilidade administrativa, econômica e financeira ao Estado. Eu não penso em absolutamente nada, eu não penso em reeleição, em 2012, eu penso em colocar as minhas maiores e melhores energias para poder viabilizar o Estado, que precisa dessa chance. Eu jamais atropelaria essa possibilidade de ter um Estado se desenvolvendo em função de qualquer projeto individual ou partidário futuro. Para mim, o que eu recebi e que eu vou começar no dia 1º de janeiro é o máximo que eu poderia ter e eu estou profundamente agradecido. Minha lógica está completamente voltada para isso.
O governador Ricardo Coutinho vai utilizar a Granja para morada?
Eu não sei ainda. Para você ter uma ideia, até hoje eu não dormi direito. Então, eu tô, assim, realmente... até hoje eu não tive uma noite de sono completa. Eu tô tentando ter amanhã (sábado) e domingo. Mas eu ainda não sei como vai ser porque, se eu moro onde eu estou morando, vai ser uma certa perturbação para as pessoas que lá estão, porque tem um aparato de segurança. Eu estou vendo isso com Pâmela (esposa). Não está dentro da prioridade nossa nesse momento, não.
 
Justamente nessa questão do descanso. Veio do primeiro turno; entrou embalado no segundo turno; não houve nenhum período de descanso, já está no processo de transição. Quando você pretende dar um tempo, para se recarregar. 
- Amanhã e depois: sábado e domingo. Se eu tiver dois dias isolado de tudo, garanto a vocês: eu recupero bem; será suficiente para eu recarregar as baterias. Porque, também, lamentavelmente eu não posso me dar ao luxo de tirar vários dias de descanso, como seria natural e como ocorre com naturalidade por aí, pelo Brasil afora. Eu tenho apenas dois meses. Agora, eu tenho, talvez, cinquenta dias para fazer uma transição que, repito, eu espero e torso para ser a mais civilizada e verdadeira possível, afinal, por uma questão de respeito ao povo da Paraíba tem que fazer uma transição. Eu tenho que montar o governo, depois da transição. E tenho, na terceira etapa, antes de assumir, de ter a maior parte dos inícios das políticas definidas cronologicamente. Eu tenho que ter isso, éuma questão de honra e de compromisso assumido no palanque e no plano de governo lançado na campanha. Então, se você realmente observar, é muito pouco tempo para um mundo de desafios. Eu tenho apenas cinquenta dias para isso. Eu, infelizmente, não poderei descansar o que eu mereceria. Vou descansar dois dias e vou vendo, aí, como as coisas acontecem. 

JORNAL DA PARAÍBA

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