Esqueçam as agulhas de tricô e as palavras cruzadas. Cansados de assistir ao noticiário sobre corrupção na TV, uma turma de amigos maiores de 70 anos decidiu levantar do sofá e protestar. O resultado disso é o movimento "Cadê meu imposto?". Com um fôlego de dar inveja em muito militante estudantil, o grupo vai sair às ruas na próxima terça-feira, dia 15 de novembro, e se juntar a outros manifestantes em um protesto na Cinelândia.
- Estou cansada dessa roubalheira irrestrita - desabafa a atriz Beatriz Lyra, de 78 anos, uma das ativistas do "Cadê meu imposto?".
Cerca de um mês depois de implantar um marca-passo, Beatriz resolveu aderir a um protesto contra a corrupção na Praia de Copacabana, no dia 12 de outubro. E não fez feio. Puxou a palavra de ordem "Não fique aí parado, você é roubado!" e colocou todos os manifestantes para repetir com ela. O momento foi registrado em um vídeo e compartilhado nas redes sociais. Quem viu fez questão de aplaudir a iniciativa.
- Eu faço a minha parte e não fico sentada em casa, esperando. Temos que ir para a rua, gritar que não estamos de acordo - diz a atriz.
Beatriz não é a única. Amigos da atriz que também estavam na manifestação decidiram aderir ao movimento contra a corrupção. E eles já convenceram os filhos, netos e empregados a participar do evento do dia 15. Célio Malta, professor aposentado de 75 anos, e advogado em pleno exercício da profissão, já se prepara para gritar com os amigos do "Cadê o meu imposto?" na próxima manifestação:
- O protesto é pela ira contra toda essa corrupção que está fazendo graça de nosso país, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, em todas as camadas.
Pelo futuro dos jovens
O grupo se reúne regularmente e mantém contato diário para decidir o que será feito no próximo protesto. A ideia deles é levar o maior número de pessoas para a rua (20 mil ou 30 mil pessoas, segundo Beatriz) e cobrar dos governantes explicações sobre o destino do dinheiro pago pelos contribuintes. "Cadê a escola? Cadê o hospital?", são frases que estão nos panfletos que a turma distribui por todos os lugares que passam.
- Estou escandalizada. A punição nesse país não existe. Os políticos roubam e nada acontece - afirma a professora aposentada Gilda Maria Benevides Soares, de 75 anos - Sou de uma geração que passou por coisas muito sérias e não posso compactuar com tudo isso.
Os três participaram ativamente do movimento das "Diretas já", em 1984, e agora, apesar de viverem em uma democracia, se sentem na obrigação de voltar às ruas para exigir governantes honestos.
- Eu lutei tanto para isso que está aí? Custou muito para conseguirmos a democracia. Quando você se lembra das lutas, quando ir para a rua significava perigo... Não é como hoje, que é fácil protestar - lembra Beatriz.
Os integrantes do "Cadê meu imposto?" sabem que, independentemente do esforço empregado, as mudanças não acontecerão logo. Também estão conscientes de que estão lutando por um futuro que não pertence a eles.
- O futuro é dos jovens, não nosso. É para eles que lutamos. Quando era estudante, recebi cacetadas e tive a roupa rasgada em passeatas - diz Célio.
O grupo espera reunir muita gente às 15h, na Cinelândia. Não somente os maiores de 70 anos, mas também os jovens.
- O jovem precisa ter mais curiosidade pelo destino do país. Afinal, ele será o dirigente de amanhã - reitera Gilda.
