quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Redes sociais: como a eleição de Obama mudou o jeito paraibano de fazer política?

A eleição do presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, em novembro de 2008, teve efeitos consideráveis em todo planeta e uma das “revoluções” implantadas pelo marketing político do democrata foi o uso intenso da internet, através de redes sociais, em sua campanha política (comitês virtuais).

No Brasil, o primeiro sintoma de que Obama tinha feito adeptos do seu modo de “seduzir” eleitores foi uma cobrança da classe política para a modificação das regras para o uso na internet nas eleições 2010 e o resultado foi a aprovação, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de novas regras para a “campanha virtual”. A propaganda eleitoral foi liberada nos populares sites de mídias sociais, como twitter, orkut e facebook, o resultado foi o surgimento de um legião de simpatizantes dos candidatos e partidos, que passaram a utilizar estas ferramentas como meio de divulgação e informação.

Inspirados no presidente dos Estados Unidos, os políticos brasileiros aderiram às mídias sociais para conseguirem captar mais votos. Um exemplo foi a criação de contas reais de twitter dos então candidatos à presidência, Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), onde a petista sagrou-se vencedora nas urnas.

Na Paraíba, o pioneiro do twitter para uso político foi o deputado federal, Efraim Filho (DEM), sendo seguido pelo ex-governador e então candidato ao senado, Cássio Cunha Lima (PSDB), que terminou de popularizar a nova mídia no estado. Após a cassação do seu mandato, o ex-governador optou por passar alguns meses nos Estados Unidos, onde constatou o poder das mídias sociais. Cássio fez uma estreia discreta no mundo virtual, com apenas 46 seguidores, mas conseguiu chegar ao final da campanha com mais de 15 mil seguidores e pouco mais de um milhão de votos.

O exemplo local do tucano acabou sendo seguido, em um primeiro momento, por seus aliados e com a deslanchar da campanha contagiou todos que disputavam algum cargo eletivo. O twitter passou a ser ferramenta obrigatória nas redações de jornais, portais, TVs e rádios da Paraíba e as tuitadas dos políticos viraram pauta para centenas de jornalistas.

Durante os debates televisivos, internautas usavam as redes sociais para avaliar o desempenho dos candidatos ao governo, fortalecendo a interatividade entre as militâncias e os próprios políticos.

Os sites de notícia dobraram seus acessos e em todo estado e empresas de comunicação on-line passaram a contabilizar mais de 1 milhão de I.P.s / mês, obrigando todos a investirem em tecnologia de ponta para suportar a nova demanda.

Os já tradicionais sites dos candidatos tiveram seu papel ampliado. Neles os internautas podiam baixar toques de celulares, jogos, papéis de parede, assistir vídeos promocionais, acessar fotos e fazer doações.

A palavra do pioneiro

O deputado federal reeleito, Efraim Filho (DEM), afirmou que ingressou nas redes sociais pelo fato de ser uma pessoa habituada a utilizar a internet no seu dia-a-dia, mas admitiu que a experiência de Obama acabou por incentivá-lo ainda mais a se aprofundar no Twitter, Orkut e Facebook. “O twitter tem a vantagem de proporcionar uma resposta imediata ao político, quando este aborda temas de interesse da comunidade. Um bom exemplo disso é o debate que estamos travando em torno da CPMF e do Enem”, avaliou.

Efraim disse ainda que é observada uma relação direta entre o número de seguidores e os votos do candidato. “A grande verdade é que aqueles que possuem mais intimidade com as redes sociais estão colhendo bons frutos”, reiterou.

Para o Democrata, o Twitter facilita a identificação do eleitor com os projetos dos políticos. “A internet diminui a distância entre o parlamentar e a população”, destacou.

Por fim, o deputado previu que muitos dos políticos que ingressaram no twitter, com mero objetivo eleitoral, deixarão a rede social. “Quem criou um perfil apenas para a campanha, não obteve êxito. O internauta reconhece aqueles que não estão interessados no debate, mas apenas em divulgar seu número de campanha”, arrematou.

Velha guarda se rendeu a internet

Recém apresentado a rede mundial de computadores, o governador da Paraíba, José Maranhão (PMDB), foi envolvido em uma grande confusão no período eleitoral, ao ter uma frase interpretada como ofensiva aos usuários das redes sociais. “Enquanto eles tuitam eu trabalho”, disparou o peemedebista em resposta ao burburinho causado pelas tuitadas do ex-governador, Cássio Cunha Lima, que já usava a rede para criticar sua gestão.

O resultado imediato da “provocação” do candidato a reeleição foi uma onda de críticas a sua postura, em que tuiteiros acusavam o peemedebista de ter dito que a prática de utilizar as redes sociais era coisa de “vagabundo” (palavra jamais usada pelo então candidato).

Já no segundo turno, vendo que seus adversários estavam colhendo bons frutos nas redes sociais, Maranhão resolveu investir pesado no mundo virtual e acabou vendo resultados, mas não foi o suficiente.

Em uma pesquisa publicada por agências locais, entre os dias 20 e 21 de setembro(primeiro turno) e 13 a 17 de outubro (segundo turno), o candidato à reeleição José Maranhão (PMDB) teve um crescimento de aproximadamente 25% na quantidade de seguidores do perfil @ze_maranhao15. Tendo pulado de 1.847 seguidores para 2.464, uma diferença. Mesmo assim, o peemedebista “acordou tarde” já que o candidato Ricardo Coutinho manteve a dianteira com seu @realrcoutinho, tendo crescido em torno de 26%. Ricardo tinha 9.036 seguidores e este número chegou a 12.315. Era uma prévia do que aconteceria nas urnas...

Seguindo o que sentenciava a internet, Ricardo foi eleito governador da Paraíba. O socialista recebeu 53,70% dos votos e derrotou o atual governador José Maranhão, que obteve 46,30%.

Nem tudo são flores

Ao passo que nos Estados Unidos a campanha de Obama foi marcada pelo alto nível na internet, na Paraíba foi surpreendida por vídeos apócrifos e desrespeitosos a ambos os candidatos, que ensejaram ações em que até a Google do Brasil foi punida pelo TRE.

Outro fato grave na campanha foi o afloramento da intolerância religiosa e do xenofobismo, manifestados através de vídeos e postagens em redes sociais. O caso que ganhou maior notoriedade foi o de uma jovem que culpou os nordestinos pela vitória da presidente eleita Dilma Roussef, com xingamentos que resultaram em uma ação na Justiça Comum.

Em linhas gerais, o saldo da campanha virtual em 2010 é bastante positivo, apesar de alguns percalços, mas é impossível negar que com esta nova ferramenta o eleitor ganhou maior interatividade com os candidatos e passou a ter voz em todo o processo eleitoral e não apenas no dia da votação.

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