De pai para filho, de filho para pai: a sucessão de poder político na PB tem quase se tornado processo genético
A cada período eleitoral a política na Paraíba se torna mais rentável
às “oligarquias” do Estado. Prova disso, é que no pleito deste ano, a
maioria dos candidatos faz parte do mesmo clã. Os políticos que
alcançaram êxito são, em sua quase totalidade, componentes da mesma
família. Embora o Poder ainda não seja genético, em 2010 traduziu-se,
no mínimo, como hereditário.
Houve até candidatos que para eleger familiares, repassaram seus
currais eleitorais, chegando a “emprestar” mais de cinco mil votos.
Segue este exemplo, a deputada estadual Francisca Motta (PMDB) que se
elegeu para seu quinto mandato legislativo e agora elegeu seu neto,
Hugo Mota (PMDB), para assumir pela primeira vez a função de deputado
federal.
Hugo
Mota também é filho do prefeito de Patos, Sertão da Paraíba, Nabor
Wanderley (PMDB) e foi eleito o deputado federal mais novo do país
eleito este ano. Hugo é mesmo jovem, apenas 21 anos, idade mínima
exigida. Pouco tempo de vida, mas votação de veterano. Ele teve votos
suficientes para garantir uma das 12 cadeiras da Paraíba.
Ainda no Sertão, destaca-se o presidente estadual do PR, Wellignton
Roberto que conseguiu se eleger para deputado federal e seu filho, Caio
Roberto, conseguiu uma vaga na Assembleia Legislativa da Paraíba.
Dando prosseguimento a linhagem, eleito senador do Estado, Wilson
Santiago (PMDB) também lançou seu filho Wilson Filho (PMDB) que também
conseguiu uma das 12 vagas de deputado federal.
Na segunda principal cidade do Estado da Paraíba, Campina Grande, o
prefeito Veneziano Vital lançou seu irmão, Vitalzinho (PMDB),
ex-deputado federal a senador e sua mãe, Nilda Gondim (PMDB) a deputada
federal, logrando êxito em ambas as candidaturas.
Vené como é chamado carinhosamente pelos campinenses é filho do
ex-jurista, ex-deputado estadual e federal pela Paraíba, Antonio Vital
do Rego, neto sobrinho do ex-governador, ex-senador e ex-deputado
federal, Argemiro de Figueiredo e neto do ex-governador da Paraíba,
Pedro Gondim e do “Major” Veneziano Vital do Rego.
Major Veneziano Vital do Rêgo também era político e candidato a
prefeito de dona Vicentina Figueiredo. As tradições políticas dos Vital
do Rêgo são claramente percebidas na própria trajetória do pai, pois o
Major Veneziano desfrutou de grande sucesso político em Pernambuco,
onde foi deputado estadual, por duas legislaturas, inclusive presidindo
Assembleia Legislativa do vizinho Estado, de 1950 a 1958.
Assim como a família Vital de tradição política, existem várias outras
no Estado da Paraíba que insistem nas sucessões familiares, pois há a
crença nata de que no seio familiar é possível se encontrar confiança,
enquanto que entre aliados, essa realidade está deixando a desejar.

Na pequena cidade de Santa Luzia, no Sertão paraibano, o líder político
local é o Senador Efraim Morais (DEM), que perdeu as eleições este ano,
mas conseguiu reeleger o filho, Efraim Morais Filho (DEM), a deputado
federal.
Não esquecendo também Cajazeiras, que tem por prefeito, Léo Abreu
(PSB), filho do ex-prefeito e deputado estadual recém eleito Antonio
Vitoriano de Abreu (PMDB). Dando continuidade a essa ‘irmandade’,
destaca-se ainda o deputado estadual Gervásio Maia (Gervasinho) (PMDB),
filho do ex-deputado federal, Gervásio Maia (PMDB).
O deputado estadual Raniere Paulino (PMDB), é filho do ex-governador do
Estado, Roberto Paulino e da prefeita de Guarabira, Fátima Paulino. A
deputada estadual eleita, Léa Toscano é esposa do atual deputado
estadual Zenóbio Toscano. O futuro vice-governador, Rômulo Gouveia
(PSDB) também emplacou a sua esposa Eva Gouveia (PSDB) em uma das 36
cadeiras do parlamento estadual.
O
ex-governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), além de ter o pai
que foi governador do Estado, deputado federal, estadual e prefeito, o
tucano tem ainda dois primos, um ocupando a Câmara Municipal de Campina
Grande (CMCG) como vereador pelo PR, Rodolfo Rodrigues e um deputado
federal recém eleito pelo PSDB, Romero Rodrigues. Sem esquecer que já
há rumores de que em 2012, seu filho Diogo Cunha Lima saia candidato a
prefeito de Campina Grande.
O atual senador da Paraíba pelo PSDB, Cícero Lucena tem um sobrinho
como deputado estadual, conhecido como Fabiano Lucena. A esposa do
ex-prefeito de Campina Grande e presidente estadual do PP, Enivaldo
Ribeiro, Virgnínia Veloso é prefeita de Pilar, enquanto seus dois
filhos conseguiram êxito no pleito deste ano. Daniella Ribeiro (PP)
logrou uma vaga na ALPB e Aguinaldo Ribeiro (PP), na Câmara Federal.
A deputada estadual derrotada no pleito deste ano, Iraê Lucena (PMDB) é
filha do ex-senador da Paraíba, Humberto Lucena. Servindo ainda como
exemplo, mesmo não tendo participado das eleições deste ano, a
vereadora Raíssa Lacerda (PSB) é filha do ex-vice-governador da
Paraíba, José Lacerda.
Não há como negar um ciclo vicioso que se formou na política paraibana.
Obviamente não chega ao cúmulo das ostentações e autoritarismo de
outrora, onde a república oligarquica causou graves consequências e
estragos à sociedade brasileira.
Outro que também tem ramificações do sobrenome distribuídos pela
política é o governador José Maranhão (PMDB). Apesar de não ter
conseguido a reeleição, o peemdebista tem a irmã como prefeita do
município de Araruna e ainda conseguiu emplacar os sobrinhos, Olenka
Maranhão na Assembleia Legislativa do Estado e Benjamin Maranhão na
Câmara dos Deputados.
É difícil enumerar aqui a relação dos parentescos na esfera política
paraibana, mas urge a observação e o risco eminente e constante dessa
divisão de poder político entre membros da mesma família. O risco com a
manutenção das oligarquias no Poder é a “oposição irresponsável”.
Não se pode correr o risco de se fazer oposição simplesmente por ser
oposição. O povo e seus anseios não podem ser prejudicados por
interesses próprios, nunca, jamais. O maior anseio da população é
vencer os obstáculos e o maior anseio dos políticos tem sido impor
obstáculos, em sendo oposição, apenas com o intuito único de se tornar
um engodo para o administrador do Executivo.
O regime oligárquico nada mais é que o poder exercido por um pequeno
grupo de pessoas, pertencentes ao mesmo partido, classe ou família;
preponderância de um pequeno grupo no poder, especialmente para
praticar corrupção e governar em interesse próprio. Cabe ao eleitor
consentir ou não a continuidade dessa “hereditariedade”.
Simone Duarte
PB Agora